Entrevista
concedida a jornalista Mônica Silveira no programa Papo Literário sobre o livro
em questão.
Desconfiei de quem não deveria.
Blog dedicado ao lançamento do livro homônimo.
sexta-feira, 17 de julho de 2015
Informações sobre o transtorno - Novo Blog
Imagem ilustrativa sobre quem possui o TBH
Como
todos sabem que o livro foi repaginado e na oportunidade trarei informações
preciosas sobre o Transtorno Bipolar de Humor aqui neste blog. O que eu
encontrar de valioso postarei aqui. Fiquem ligados nas postagens. Abraço.
Nova capa, nova arte, nova editora...
O
livro agora conta com nova capa, nova arte gráfica e nova editora, no caso
Editora Premius.
Diz
aí, a capa ficou ou não ficou excelente? Quem assinou esse trabalho gráfico foi
o grande Bruno Melo. Obrigado Bruno.
Revisão
de texto ficou por conta de Rejane Nascimento, uma profissional espetacular, na
oportunidade me deu dicas dos mais diversos aspectos. Obrigado Rejane.
Obrigado
a todos que participaram direta e indiretamente deste trabalho de sucesso.
Muito mas muito obrigado.
Um recomeço...
Bom
dia leitores!
Há
exatos dois anos este blog foi criado com o intuito de aproximar cada vez mais
você do mundo de Arsenia Bittencourt e da bipolaridade. Relancei o livro com
nova capa como você pode ver acima e pude observar o quanto a aceitação da obra
foi e é satisfatória, graças a Deus...
Mas
nem sempre os nossos planos saem como planejamos e o blog do livro Desconfiei
de quem não deveria ficou postergado. Uma pena não é? Mas a boa notícia é que o
blog do livro está de volta com informações preciosas sobre o livro e sobre a
doença em questão: Transtorno Bipolar de Humor.
Então
sinta-se em casa e aprecie este blog que será reestruturado aos poucos e
acompanhe sobre o mundo de Arsenia Bittencourt e companhia.
Boa
leitura!
Escritor
Randerson Figueiredo.
terça-feira, 16 de julho de 2013
Primeiro capítulo do livro Desconfiei de quem não deveria na íntegra.
1
Sede de conhecimento
O dia 25 de novembro de 2002 foi uma
data atípica para mim. Aos meus 21 anos, vividos de forma tranquila, e muito
bem vividos por sinal, me deparei com um problema um tanto quanto curioso.
Naquela altura cursava enfermagem e acreditava que esse era o curso da minha
vida, e não tinha porque não acreditar nisso já que sempre gostei de biologia e
tudo que é ligado ao ser humano.
A começar pelo meu nome, Arsênia, é
derivado do arsênio e seu óxido, o anidrido arsenioso, às vezes dito arsênio
branco, é muito tóxico; Sim, sou parecida com o arsênio, não por ser tóxica,
mas por ter um temperamento ruidoso. Meu pai, o senhor Alfredo, escolheu esse
nome justamente por praticamente ser muito provável que meu gênio fosse
parecido com o dele. Por quê?
Simplesmente porque ele dizia que era intuição paterna e que os genes iriam dar
conta de dar seu recado.
Minha mãe, dona Auristela, sempre foi
uma mulher extremamente interessante, pode até parecer complô feminino, mas não
é; ela realmente sempre se comportou como uma verdadeira dama da alta
sociedade. Não somos abastados o suficiente para fazer farras homéricas, mas
sempre tive o bastante para comprar os livros que quisesse. Não somos ricos,
mas a leitura sempre esteve garantida. Até mesmo porque sempre gostava de
dizer: quem é trabalhador nunca será pobre.
E por falar em livros, essa sempre foi
minha verdadeira paixão, o prazer pela leitura. O processo de investigação
sempre me atraiu, sempre chamou minha atenção. A leitura propriamente dita. Sou
uma ratazana de biblioteca. O curso me motivava a isso, a ler constantemente.
Os livros faziam parte de minha alçada.
Não pense que me esqueci da data
mencionada logo no início, vou chegar lá. Quando estava no terceiro semestre do
referido curso, fui imbuída de realizar um trabalho a respeito das doenças
ocupacionais. Fiquei maravilhada por ter ficado no grupo com mais quatro
componentes que se destacavam na turma.
Uma dessas pessoas é minha melhor
amiga, Fabrícia é o seu nome. Uma pessoa de minha inteira confiança e que tem
um papel fundamental no desenrolar desta história. Mais três pessoas compõem a
equipe, são eles: Eduardo, Suzana, Roberval.
Esse trabalho nos foi passado pela
professora Marilis, responsável por ser a facilitadora da disciplina higiene e
segurança no trabalho, popularmente chamada de HST. A data para entrega era
justamente no dia 25 de novembro de 2002, uma das datas marcantes para mim.
Àquela altura estava entregue de corpo
e alma para o curso, era o dia 15 de agosto e no dia seguinte nos reunimos para
discutir as principais abordagens que daríamos ao trabalho. Era uma disciplina
importante e eu como sempre queria demonstrar, não para os outros, mas para mim
mesma que eu era a melhor. E com aquele trabalho não seria diferente.
No dia da reunião, todos estavam
empolgados com o desenrolar do trabalho, afinal era um trabalho importante, um
grande seminário. Fabrícia notou algo de estranho, me chamou à parte e me fez a
seguinte indagação:
-
Estou notando que você está diferente, está com algum problema?
-
Não. Não consigo enxergar nenhuma alteração em mim. Como assim diferente?
-
Percebo que você está mais obcecada do que o habitual pelos estudos. Está mais
distante, como se você estivesse de corpo presente e mente ausente. Enfim, como
se não estivesse aqui.
-
Deve ser impressão sua. Sempre fui assim, você sabe disso. Extremamente
compromissada e exigente demais comigo.
-
Mas de uns tempos pra cá, falamos com você e é como se estivesse no mundo da
lua.
Parei para pensar um pouco naquela
afirmação de Fabrícia. No fundo no fundo sabia que ela tinha razão, afinal,
depois de minha mãe, a pessoa que mais me conhecia era ela.
Depois da conversa voltamos normalmente
aos trabalhos e decidimos que cada um deveria ficar com uma pequena parcela do
desenvolvimento do trabalho. Eu como sempre queria estar a par de tudo
considerava que precisava saber de cada passo dado dos meus amigos referentes
ao projeto.
Aquele trabalho representava para mim
naquele momento uma vontade enorme de fazer o melhor trabalho que a professora
Marilis havia visto. Inclusive conversei sobre esse assunto com Fabrícia:
-
Fabrícia, mais do que nunca estou com uma vontade enorme de fazer o melhor
nesta apresentação e quero contar com a preciosa ajuda de vocês.
Fabrícia muito sensata respondeu:
-
Você tem que ir com calma minha amiga, todo mundo tem suas limitações,
inclusive você.
-
Eu sei disso, você não precisa ficar me lembrando disso.
-
Claro que eu lembro, afinal, você quer ser uma verdadeira heroína a todo
instante. Tem que dar um tempo, acalmar os ânimos. Você tem certeza que não
quer conversar comigo sobre algo que esteja te angustiando?
-
Não Fab, não consigo compreender do que você está falando, simplesmente estou
ótima, ou melhor, estou cada vez melhor, revigorada.
Era justamente isso que preocupava
Fabrícia, ela desconfiava que houvesse algo de errado comigo, e de fato havia.
Sua mãe era uma competente psicóloga e em uma conversa que teve com ela começou
a relatar o que estava acontecendo comigo, estresse, exacerbação da
personalidade, fácil dispersão e como se estivesse no mundo da lua. O desfecho
da conversa não foi nada animador. Ela suspeitou que eu fosse esquizofrênica.
De início Fabrícia não me contou nada,
ela não queria me assustar, de forma muito sutil me apresentou um livro de
psicopatologia, como ela sabia que eu gostava de leitura era uma presa fácil.
Ela disse:
-
Você vai gostar desse livro Arsênia, vai se identificar com ele.
O tom que usou ao pronunciar estas
palavras foi de causar calafrios, ela nunca tinha falado assim comigo em 12
anos de amizade. Olhei bem para o livro e decidi lê-lo afim de por fim aquela
angústia que Fabrícia tanto instigava.
Li o livro por completo e entreguei-o
no dia 14 de outubro. Aquele livro causou uma mudança radical em minhas
concepções a respeito da vida. Digo radical, pois em um dado momento da leitura
me identifiquei com um dos conceitos ali descritos. Mais precisamente o
Transtorno Bipolar, antigamente conhecido como maníaco-depressivo.
Conversei com Fab e ela disse que
estava com uma certa desconfiança de que eu pudesse ser esquizofrênica ou
bipolar. Faltava um mês para a entrega do trabalho de HST e naquele momento só
tinha olhos e ouvidos para descobrir o que de fato estava acontecendo com meu
corpo.
Quando chegava a casa ia direto para o
quarto pesquisar na internet sobre as doenças, em particular o Transtorno Afetivo Bipolar (TAB). Minha
mãe já estava preocupada com meu estado e certa vez entrou em meu quarto e me
indagou:
-
Minha filha, percebo que você está cada vez mais distante da gente, dos seus
familiares, só enfurnada neste quarto, com suas pesquisas e seminários, você
não acha que está na hora de dar uma descansada?
-
Que nada mãe, só gosto de estudar, só isso.
-
Não, você está exagerando filha, cada vez mais embrutecida. Você não acha que é
bom ir ao médico, conferir se está tudo bem?
-
Mãe, não tenho tempo de ir ao médico, tenho que cuidar de um seminário daqui a
um mês. Não tenho tempo para isso.
Minha mãe estava muito preocupada, pois
alternava dias de depressão e euforia, também chamada de mania. Quanto mais o
tempo passava, mergulhava de corpo e alma no trabalho, queria dominar a todos
com minhas ideias extravagantes e pensamentos desconectados, fazer com que o
trabalho entrasse para a história, enfim, queria cuidar de tudo. E foi no
fatídico dia da apresentação que desencadeei uma crise de mania que entrou para
a história e o pior, na frente de todos da sala.
É chegado o grande dia, 25 de novembro,
como já mencionei causou um grande espanto, não só a mim, mas em todos que
estavam presentes no dia da apresentação. Estava mais nervosa que o habitual,
suando frio, muito apreensiva. Estranhei, pois como os seminários eram
constantes, praticamente já estava acostumada com a presença do público. Só que
naquele dia, tudo saiu errado.
Fabrícia deu início à apresentação,
enquanto ela explanava eu divagava e minha imaginação naquele momento não tinha
limites, pensava sobre tudo, sobre meus livros, meus pais, os romances de
Shakespeare, o sabor do bolo de macaxeira que havia feito na semana passada,
mas menos sobre o trabalho que naquele momento se fazia tão presente e que não
só ele, mas meus colegas precisavam de mim. Era um verdadeiro turbilhão de
pensamentos que eu não tinha o menor controle.
Achava aquela situação insuportável,
não só pelo meu estado, mas pelo trabalho em si. Depois de Fabrícia era minha
vez, chegou o momento. Simplesmente não quis falar sobre o tema do trabalho,
que versava sobre silicose, uma das doenças ocupacionais. Queria falar sobre a
vida, sobre como é bom viver, sobre os romances que havia lido, sobre amizades
e sobre tudo que girasse em torno das relações interpessoais.
Carreguei na tinta. Estava extremamente
exagerada, segundo depoimento de Fab, sim porque aquela altura não tinha noção
de mais nada, estava em pleno delírio e parecia uma metralhadora falando tudo
que vinha a mente. Lembro-me que de instante em instante gargalhava
compulsivamente, me sentia muito feliz, mas não sabia explicar o motivo, aquele
era o estado de mania.
Quando o trabalho chegou ao fim à
professora esperou todos saírem e conversou um pouco comigo:
-
O que aconteceu com você Arsênia?
Falei com ela intercalando estados de
euforia, rindo sem parar, em estado de êxtase.
-
A senhora não gostou? Eu adorei, me senti tão renovada hahahahaha.
-
Você não está bem minha querida, estou achando você longe, perdida, como se
fosse outra pessoa.
-
Professora até a senhora? Já basta a Fabrícia que vem abordar esses assuntos
também. Estão todos desconfiando de mim.
-
É porque me preocupo com você, és uma das minhas melhores alunas e vejo que
você vai longe. Muito longe. Cá pra nós, tenho você como se fosse uma filha,
por isso meus questionamentos incisivos. Compreende?
De
repente me senti invadida por uma grande emoção, uma vontade enorme de chorar,
de me expressar e de abraçar dona Marilis pela qual eu também tinha grande
admiração. E foi o que eu fiz já com os olhos marejados, pedi delicadamente:
-
A senhora pode me dar um abraço?
Ela não pensou duas vezes.
-
Mas é claro minha querida, não precisa pedir.
E nós nos abraçamos longamente, assim
como mãe e filha, comecei a chorar copiosamente, ela também só que de forma
mais contida. E num gesto de cumplicidade nos olhamos mais uma vez como se
naquele olhar ela me dissesse: conte sempre comigo.
-
Posso não saber o que está acontecendo, acredito que nem você mesma saiba, mas
não esqueça que mais que uma professora de HST, sou sua amiga disposta a te
ajudar, sempre, quero que saiba disso.
E as lágrimas insistiam em correr pela
minha face e com um leve sorriso, não mais aquele esdrúxulo e sarcástico
respondi um singelo:
-
Muito obrigada, de coração.
Quando sai da sala e ainda enxugando as
lágrimas Fabrícia estava me esperando com um semblante de preocupação e
angústia. Ela apenas me acompanhou e não disse uma só palavra, estava
pensativa. Aquela situação que houve em sala e meu choro só fazia ratificar o
que ela suspeitava que eu possuía algum transtorno mental.
E os pensamentos continuavam a surgir
atônitos, um atrás do outro, não sabia o que fazer, não sabia para onde ir, não
sabia relacionar meus pensamentos com a realidade, essa era a principal
dificuldade que encontrava naquele momento.
Chegamos ao ponto onde passa o coletivo
e Fabrícia sem falar nada. Foi aí que perguntei:
-
Seria bom se pudéssemos ir a um balão para casa não é Fabrícia?
Aquela pergunta era completamente sem
nexo e Fabrícia se esforçou para respondê-la da melhor maneira possível, o
máximo que conseguiu foi esboçar um discreto sorriso. E completou:
-
Hoje vou ao mesmo ônibus com você. Vou visitar minha tia Célia, ela está
doente.
-
Que maravilha! Aproveita e dá uma passadinha lá em casa, faz um lanchinho.
-
Tudo bem.
A visita de Fabrícia era só um pretexto,
ela queria mesmo era conversar com minha mãe, eu não sabia, mas as duas
conversaram um longo período secretamente sobre meu estado, contou a ela que
minha situação era crítica, pois já desconfiava que eu possuísse um transtorno
mental só não sabia qual era, mas desconfiava de um: o Transtorno Afetivo
Bipolar; e dona Auristela precavida como sempre pediu que Fabrícia a mantivesse
informada de tudo e foi justamente quando estava conversando com dona Marilis
que ela telefonou a minha mãe e informou que meu estado era grave. Era preciso
uma intervenção.
O ônibus finalmente chegou. A viagem
não durou mais que quarenta minutos e chegamos ao nosso destino. Assim que
chegamos a minha casa, nos deparamos com minha mãe aflita como se quisesse
saber alguma informação ao meu respeito.
-
Onde vocês estavam?
-
Como assim onde a gente estava? Na aula, onde mais poderia ser?
-
É porque vocês demoraram um pouco mais a chegar hoje.
Fui direto à cozinha preparar um lanche
para mim e Fabrícia. Minha mãe e ela ficaram conversando na sala.
-
Não se preocupe dona Auristela, hoje percebi que Arsênia está mais inconstante
do que de costume, por isso resolvi vir com ela até sua casa.
-
Fez bem minha filha, fez bem, como a gente tinha combinado vamos colocá-la em
observação.
-
Dona Auristela, acho que seria necessário chamar algum especialista, a senhora
não concorda?
-
Mas eu tenho medo que ela não concorde. Medo que ela fique revoltada conosco.
-
Mesmo assim, um dia ela entenderá, agora o que não podemos é deixar que ela
fique aérea desse jeito.
Nesse momento interrompi a conversa
avisando que havia feito sanduíches. Fomos até a cozinha comê-los e continuamos
a conversa:
-
Minha filha, como havia falado naquela conversa que tivemos há alguns meses,
percebo que você está cada vez pior.
-
É Arsênia, concordo com sua mãe, você não acha que está na hora de procurar
ajuda psicológica?
-
Que é isso gente, vocês me tratam como se eu fosse uma doente! Podem parar com
isso, não é de hoje que percebo esse complô de vocês.
-
Não é complô Seninha – Minha mãe não muito raro, falava assim comigo.
-
Vamos parar com essa conversa e comam seus sanduíches.
-
Estou sem fome – Respondeu Fabrícia.
-
Também não vou comer nada.
Aquela simples situação, tão fácil de
resolver com uma simples conversa resultou em uma grande discussão. Retruquei
exasperadamente:
-
Vocês vão comer sim! Fiz com tanto carinho.
-
Não Arsênia, já estou de saída, ainda vou ter que passar na casa de minha tia.
-
Deixa para uma próxima vez minha filha.
Foi aí que descontrolei de vez.
-
Vocês acham que estou louca! Mas eu não estou, sou uma mulher inteligente e sei
quando estou bem ou não estou.
-
Não minha filha, ninguém está dizendo isso.
-
Está estampado na cara de vocês, vocês querem se ver livres de mim.
-
Não diga isso Arsênia, sua mãe só está tentando colaborar, não dificulte as
coisas.
-
Dificultar? O que é isso Fabrícia, você está falando com uma arrogância que eu
nunca havia percebido em você.
-
Não é isso minha amiga. É que não é de hoje que você precisa de ajuda, nós
estamos aqui para te ajudar.
-
Eu não preciso de ajuda!!! – Berrei de forma angustiada e dolorida.
-
Tudo bem, já vou indo, se precisar de mim é só ligar. Tchau.
-
Tchau Fabrícia, amanhã a gente se fala.
-
Volte sempre querida, as portas desta casa estarão sempre abertas.
-
Obrigada dona “Stela” – Só os mais íntimos a chamavam assim.
Era por volta das vinte e duas horas e
trinta minutos e minha mãe recomendou que fosse dormir. Extremamente tensa, fui
tomar banho e me deitar. Mas não conseguia dormir de jeito nenhum, uma tremenda
insônia me consumiu naquele dia que a meu ver foi um dos piores da minha vida.
Mais uma vez o turbilhão de pensamentos tomou conta de meu ser e não pude
respirar aliviada, ou melhor, adormecer de forma tranquila. Às cinco e meia do
dia seguinte ainda estava acordada, mais acesa que um vagalume no breu mata
adentro. Não fazia ideia do que estava acontecendo comigo, queria a todo custo
fazer uma série de atividades ao mesmo tempo como se quem fosse diagnosticado
com Transtorno de Déficit de Atenção e Hiperatividade (TDAH), o que não era o
caso.
Fui tomar café às seis horas,
“cedíssimo” para quem estava acostumada a levantar as nove/dez horas. Minha mãe
tomou um tremendo susto e perguntou:
-
Menina, o que foi isso? Caiu da cama?
-
Quem dera, pelo menos nesse caso eu estaria dormindo. Não preguei o olho à
noite toda.
Mas por incrível que pareça estava com
uma energia para correr uma maratona caso fosse preciso. Uma das
características da doença é como se possuíssemos uma energia descomunal, como
se nosso corpo produzisse adrenalina além do limite. Não me sentia abatida
fisicamente, mas psicologicamente estava me sentindo um caco. O cérebro havia
trabalhado além de sua capacidade.
Olhava para meus livros e sentia uma
vontade incrível de lê-los freneticamente. Mas mesmo que quisesse fazer isso
não conseguia me concentrar. Em um dos pensamentos aleatórios que inundavam
minha mente a todo instante era o de que eu possuía um poder telepático capaz
de mandar nas pessoas só fixando meu olhar e mandando e desmandando com meu
suposto poder mental.
Delírios e mais delírios, estava à
mercê de grandes delírios. Fui ao curso, com receio dos olhares que me
aguardavam, tinha medo de me deparar com risos sarcásticos e etéreos. As pessoas
agiam de forma diferente comigo, eu sentia isso, me evitavam, menos Fabrícia
que sempre demonstrou afeto comigo, mesmo nos meus momentos mais intempestivos.
-
E aí Seninha, como está você?
-
Estou mais ou menos Fab, ontem não dormi nada.
-
Mas você vai melhorar, tenho fé em Deus que vai.
-
Algo que eu também tenho é fé viu.
-
Então, não podemos esmorecer minha amiga, você vai melhorar.
-
Acredito que sim, deve ser só uma indisposição aliada com insônia nada mais do
que isso. Você não acha?
-
É, pode ser.
Fabrícia respondeu de forma seca. Sua
suspeita encontrava evidências a cada dia e meu estado só piorava. Foi quando
me convidou para ver uma exposição sobre o corpo humano, que estava em cartaz
em um shopping da cidade.
-
Arsênia o que você acha de irmos à exposição sobre o corpo humano que está em
cartaz no shopping?
-
É uma boa ideia Fab. Vamos.
Fabrícia lançou um olhar de tristeza e
me abraçou.
-
O que foi Fab? Ficou triste de repente.
-
Nada não – Fabrícia fica pensativa.
Assistimos à aula e fomos direto a
exposição. Fabrícia disse que seria um passeio diferente, chamou um táxi para
nos levar até lá. Só que percebi que o taxista estava nos levando para um
caminho diferente, cheguei a comentar com ela que aquele não era o caminho
habitual para se chegar ao shopping, ela explicou e disse que a exposição havia
sido transferida de lugar naquele dia, 26 de novembro, e que estávamos indo
para lá.
Chegamos ao tal lugar, era um ambiente
arborizado e muito grande, avistei minha mãe e comecei a estranhar o que estava
acontecendo. Foi aí que perguntei a Fabrícia:
-
O que ela está fazendo aqui Fabrícia?
-
Não sei, acho melhor você falar com ela – Fabrícia já estava ficando nervosa.
O lugar se chamava Casa de Repouso
Nosso Lar, estava me sentindo em um romance psicografado por Chico Xavier. O
local tinha uma recepção bem iluminada e uma secretária muito simpática chamada
Neide. Minha mãe começou a explicar o que estava acontecendo, sim porque por
mais óbvio que parecesse não fazia ideia do que estava fazendo ali, meu nível
de delírio já estava em um nível acima do normal, mas ainda havia um pouco de
sanidade.
-
Filha quero que você entenda que estamos fazendo isso para o seu bem.
-
Fazendo o quê, mãe?
-
Filha, você vai ficar um tempo nesse ambiente meu amor.
-
Cadê meu pai, ele não veio com a senhora?
-
Ele vem amanhã visitar você meu anjo. Mas olhe! Quero que você fique bem viu!?!
– Minha mãe ficou emocionada.
-
É para o meu bem não é?
-
É filha, aqui você vai ficar bem.
Estavam me internando, possuía plano de
saúde e a carência cobria as despesas. Meu pai não teve coragem de me internar,
eu entendi, algumas pessoas não estão preparadas para os baques da vida; como
dizia Margareth Tatcher: se quer discutir um problema chame um homem, se quiser
resolvê-lo chame uma mulher. Minha mãe era firme como uma rocha. E eu confiava
em tudo que ela dizia, algo me dizia que podia acreditar e que iria ficar bem.
Fiquei na recepção junto com Fabrícia
que só me olhava como se estivesse contemplando uma paisagem, enquanto minha
mãe conversava com um dos psiquiatras que estava no plantão para lhe dar as
devidas coordenadas. Fab também emanava boas vibrações:
-
Você é demais sabia. A melhor amiga que eu tenho. Você vai ficar boa rápido,
basta encarar essa situação como se você estivesse num spa passando umas
férias.
Comecei a rir descontroladamente.
Realmente não tinha noção do que eu estava fazendo ali. Minha mãe terminou a
conversa com o psiquiatra e logo em seguida surgiu à enfermeira-chefe, a
senhora Tânia e me levou aos meus aposentos. Despedi-me de Fabrícia e de minha
mãe com dois longos abraços e segui o meu destino. Uma nova vida começaria a
partir dali.
domingo, 7 de julho de 2013
O lado bom da vida.
Uma dica de filme excelente: O lado bom da vida. Tem como
pano de fundo o Transtorno Afetivo Bipolar e explora de forma bastante
apropriada à questão - uso de remédios, psicoterapias, lado emocional do
paciente, variantes do transtorno, vale a pena conferir.
Sinopse: Por conta de algumas atitudes erradas que deixaram as pessoas de seu trabalho assustadas, Pat Solitano Jr. (Bradley Cooper) perdeu quase tudo na vida: sua casa, o emprego e o casamento. Depois de passar um tempo internado em um sanatório, ele acaba saindo de lá para voltar a morar com os pais. Decidido a reconstruir sua vida, ele acredita ser possível passar por cima de todos os problemas do passado recente e até reconquistar a ex-esposa. Embora seu temperamento ainda inspire cuidados, um casal amigo o convida para jantar e nesta noite ele conhece Tiffany (Jennifer Lawrence), uma mulher também problemática que poderá provocar mudanças significativas em seus planos futuros.
Sinopse: Por conta de algumas atitudes erradas que deixaram as pessoas de seu trabalho assustadas, Pat Solitano Jr. (Bradley Cooper) perdeu quase tudo na vida: sua casa, o emprego e o casamento. Depois de passar um tempo internado em um sanatório, ele acaba saindo de lá para voltar a morar com os pais. Decidido a reconstruir sua vida, ele acredita ser possível passar por cima de todos os problemas do passado recente e até reconquistar a ex-esposa. Embora seu temperamento ainda inspire cuidados, um casal amigo o convida para jantar e nesta noite ele conhece Tiffany (Jennifer Lawrence), uma mulher também problemática que poderá provocar mudanças significativas em seus planos futuros.
Desconfiei de quem não deveria | Livro
É com enorme prazer que apresento meu livro intitulado: Desconfiei de quem não deveria, o qual aborda o tema transtorno afetivo bipolar sob uma ótica mais filosófica, bem-humorada e não menos contagiante.
Publiquei o livro em parceria com o Clube de Autores. Leia as dez primeiras páginas do livro, acredito que você irá gostar... Está disponível no site:https://www.clubedeautores.com.br/book/157284--Desconfiei_de_quem_nao_deveria#.Ur8WhPTsISs Ou se preferir você pode acessar a fan page oficial do livro e ler o primeiro capítulo na íntegra:
Publiquei o livro em parceria com o Clube de Autores. Leia as dez primeiras páginas do livro, acredito que você irá gostar... Está disponível no site:https://www.clubedeautores.com.br/book/157284--Desconfiei_de_quem_nao_deveria#.Ur8WhPTsISs Ou se preferir você pode acessar a fan page oficial do livro e ler o primeiro capítulo na íntegra:
https://www.facebook.com/DesconfieiDeQuemNaoDeveria
O preço para livro impresso e e-book estão na página, se possível curta, compartilhe e dê sua opinião sobre esse meu novo trabalho, desde já agradeço ;)
Abraço a todos.
O preço para livro impresso e e-book estão na página, se possível curta, compartilhe e dê sua opinião sobre esse meu novo trabalho, desde já agradeço ;)
Abraço a todos.
Randerson Figueiredo Teixeira.